|:| Corpus Compartilhado Diacrônico: cartas pessoais brasileiras |:| Célia Lopes {celiar.s.lopes@gmail.com} e Silvia Cavalcante {silviare@gmail.com} |:| Carta 61-JM-13-09-1936 |:| Autor: Jayme O. Saraiva |:| Destinatário: Maria Ribeiro da Costa |:| Data: 13 de setembro de 1936 |:| Versão modernizada |:| Encoding: UTF-8 Rio de Janeiro 13 de Setembro de 1936 Querida [M.] Que este te vá encontrar em perfeito estado de saúde , assim como todos os teus , embora que eu saiba que não sintas menos saudades do que eu . Hoje domingo não saí de casa , tambem não fui na sua conforme prometi porque tenho passado mal , eu ando em pé só para não dar o braço a torcer , se eu continuar assim talvez não possa ir aí no próximo domingo dia 20 , porque tenho piorado muito , no entretanto suplico-te para pedires a Deus para eu ficar bom , para eu poder ir , porque não suporto mais esta separação . Escrevo-te um pouco do que sinto e penso , no momento desta saudade SAUDADE III Longe de ti , triste desperto E a ti me chego pelo pensamento Longe dos olhos teus , neste momento Ante meus olhos , tudo está deserto ... II Deserto sim . Em torno a mim nem tanto Ver , pois não tenho nada a ver por certo Da tua alma , à minha alma está bem perto Em dulcíssimo e santo enlevamento . Minha querida sinto tanto a tua falta , anseio para ver-te que parece-me que tu não voltas mais , eu sei que um dia virás e espero-te ansioso , mas quando ? Uma esperança acende-me a face e o riso de um sonhar abre-me o coração , vivo espalhando a luz como quem dando o pão , feliz em fazer bem no bem se rejubila , Ama-me assim querida sem ânsias nem clamores , sem amostras no olhar de coisa alguma , num silêncio feliz num gesto em suma , furtivo às aparências exteriores . Esta noite tive um sonho contigo tão lindo , que preferia [pag] ficar naquela doce ilusão até tu chegares , sonhava que havia entrado na tua casa , sem ninguém pecerber e fui encontrar-te dormindo tua alcova estava linda , era a pálida luz da lâmpada sombria sobre um leito de flores reclinada , como a lua por noite embalsamada entre as nuvens de amor você dormia . Era a deusa do mar , na eseuma fria pela maré das águas embaladas , era um anjo entre nuvens d ’ alvorada Que em sonhos se banhava e se esquecia , era mais bela , o seio palpitando negros olhos as pálpebras abrindo formas nuas no leito resvalado , não te rias de mim , meu anjo lindo , por ti as noites eu velo chorando , por ti nos sonhos morrerei sorrindo . Estes pobres bilhetes que te mando , peço-te que não mostres a ninguém , guarda-os contigo , esconde-os sempre e quando não os quiseres mais , queima-as meu bem , nunca deixes que neles domarando possa acaso , indiscreto , o olhar de alguém ao fundo queira saber . Continuo esperando a tua carta que tanta há de trazer-me . Lembranças para os teus , dá um beijo por mim na [H.] E para ti tantos beijos quantos desejares . Deste que sempre te pertenceu muitas saudades [J. O. S.] Recebi tua carta hoje Rio 14 - 9 - 36 muitos beijos